Hoje
Quis vestir-me de sol
Mas a chuva molhou-me o rosto
Na pressa dos caminhos
Vesti-me de cinza
Da cor dos silêncios
Pardos como as horas
Desfiadas nos sonhos parados
Hoje
Quis ver a lua
Mas foi nuvens que encontrei
Na troca de olhares
Com um céu de breu pintado
Ouço-a tombar lá fora
Traz-me segredos sussurrados
Que me transportam
Para prados verdes
Ou mares sem fim
Grita baixinho uma dor
Só nossa
Despida em ternura magoada
E na lama que foge dos pés
Sinto escorrer a vida
Lentamente
Como sangue quente
Que agasalha o silêncio
Amanhã
Vou de novo procurar o sol
Amanhã
Quero senti-lo roçar-me a pele
Languido como beijo
Ávido como húmus
Amanhã
Vou cerrar as horas
Buscar outros silêncios
Perpetuar paixões
E rasgar desejos
Amanhã
Com sol ou chuva
Serei maré
Amanhã
Serei lume aceso no teu olhar
Serei mulher apenas
Fêmea desperta pelo teu sentir
Amanhã
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