sábado, 30 de novembro de 2013

Da raiva e da revolta

Ah!... como me cansa já este vento norte
Impiedoso
Que corta as carnes expostas ao frio

Como me cansam estes ferinos mandantes
Impiedosos
Que cortam as almas expostas ao medo

Se isto é de humana gente
Que manda a soberba cruel
Rasgar peitos que o vento
Não mais rasga que a pele

E aqui
No meu silêncio aquecido
Cresce-me uma raiva por dentro
Pede-me sangue e dor e revolta solta
E parto no silêncio vão
De não saber ainda que é de mim para onde
Vou
Apenas sei que me espera a luta
Da esperança que ainda não foi perdida
E arremesso a alma
O só que ainda resta e
Vou


Liama

Um dia...


Abro asas na noite escura e parto vestida de breu na busca do sonho esquecido que um dia se perdeu. Sou só eu e o céu, onde se escondem estrelas sem brilho, nos caminhos onde a alma um dia se escondeu.
Ao longe um murmúrio dolente, do meu rio entre fragas… tão manso e solto como a noite, tão livre e perdido…como eu! Amanhã, amanhã talvez a luz me encadeie o peito e um sorriso me vote a fazer sonhar.
Trago silêncios presos nas mãos que se abrem em busca vã. Trago mordaças rasgadas por onde se solta o grito mudo.
Nas nuvens desenho caminhos, cinzentos como as horas cansadas. Mas sigo. Sigo sempre que o sol está mais além… e um dia, ai um dia virá em que o sol no peito me poisará. E então, o grito não será mais mudo. Rasgará silêncios em brasa e nascerão estrelas novas a bordar a oiro os meus seios onde nasce um rio que corre e grita e tropeça, cai e se levanta, dorido mas feliz… um dia… um dia…

Desejos

Apetecia-me um rio calmo
Onde
Tranquilo
Navegasse o teu olhar perdido em mim

Apetecia-me a serenidade
Do silêncio embutido nas paredes
Onde mora o desejo perdido de ir mais além

Saio de mim
Nas palavras cobertas
Onde há voos de pássaros feridos
E flores murchas de amanhãs
Onde o grito mudo se instala
Predador

Espero na bruma pardacenta
Um sinal que não chega
De um sol que se pôs
Quando chegou triste
A madrugada

Há frio nos caminhos
Há dor nas esperas desesperadas
Há um querer escondido
Que se apequena
Que me envolve
Assim…
Sem querer nada

Da vida vivida
Ficam as mágoas
Chagas abertas na noite
Cobre-as o sal deste olhar
Perdido
Que se arrasta
Dorido
Por penhascos abandonados

E depois
Nasce um verde pequenino
A olhar um sol apagado
Mas vem o negro
E mata o sonho
E cobre o sol
Desesperado


Liama

segunda-feira, 23 de setembro de 2013


De que valem as palavras
Quando no peito gritam silêncios
Quando os fantasmas da noite
Vem povoar os sentidos

Abrem-se os poros
Que ofegam
Da pele um cheiro a madressilva
Que sai do manto que o luar despe

Ali
Ao fundo
Geme o rio no seu deslizar
Sem ondas nem memórias
Caminho de vida
Rasgado no ventre da terra

Assim se rasga o véu da esperança
Que da vida se vai soltando
E esvoaça, esvoaça
Sem destino nem paragem
Para lá das nuvens, dos céus desnudos
Cobrindo apenas
Um Adónis curvado pelas dores
Esquecido de ser deus
Porque de humanos sentimentos talhado

E de olhos postos na terra
O meu deus chora e berra
Rasga céus enraivecido
Ao perceber que já não é nada
Nem deus, nem homem
Apenas o desejo escondido

Sem carne, sem alma, sem Nada

Liama
Beijo-te no sol que se põe
Relapso como as horas roubadas
Mudas e despidas de lua
Sonho-te já na espera sem esperança
Onde pairam folhas secas
Deste Outono que tarda
Respiro-te sal na memória
Da escuma dos dias
Onde se perde o tempo perdido
Onde se ama o nada abandonado
Já és só miragem distante
O nada que já foi tudo
Sorri a alma de novo
A galopar livre e solta
Voa-me o peito leve
Já a aurora traz novos cantos
E a onda desenrola noutra maré
Nada no vento
Apelas ele
Vestido de novas velhas folhas
Gritante e destemido
E eu vou
Vou no vento vibrante, gritante
Vou no sonho
Mutante
Amante

Liama



na tua mão

Dá-me a tua mão, amor
Essa mão por onde escorre a vida
Com que um dia moldámos
Esperança
Nas nossas mãos nasce um rio
A que chamámos Liberdade

Dá-me a tua mão, amor
Vamos juntos perseguir estrelas
Construir caminhos
De Fraternidade

Olha lá longe
O sol põe-se
Num rasgo de saudade
Visita-me o rosto tranquilo
E instala-se-me na alma
De mansinho
No silêncio frágil de um beijo

E o meu corpo arde então
No calor da tua mão
Sentir-te ainda, assim
Perdido em mim
Por mim

Depois vai
Parte em busca de nós
Que fomos sem nunca ser
A ausência mais presente da verdade

Dá-me a tua mão amor
Ou não


Liama

quinta-feira, 2 de maio de 2013




Aqui
Perdida entre o nada e o coisa nenhuma
Entre o céu e o mar
Onde o azul
Dobrou os sonhos afogados
Que foram no sal da vida
Rostos vazios e silêncios
Ecos vadios sem palavras

Aqui
Espero um amanhã roubado
A mão que não chegou a dar-se
As flores que teimaram em morrer
Antes do beijo do sol
Queimadas

Aqui
Sou o vagar da esperança
Perdida nas sombras do luar
Onde se enrosca o querer
Animal acossado
Açaimado

Aqui
Sou nada à espera do tudo
Cinzento como as manhãs
Onde não me acordo nem me sinto

Aqui
Sou dor por sentir
Espinho cravado na alma
Caminho sem destino
Flor sem fruto

Aqui
Sou
O nada
Do tudo que me resta