EU
Eu sou fúria do vento. Incerta como tempestade de Verão.
Trago sol na algibeira e enrolo-me na lua em segredo. Sou cinza das fogueiras
onde ardi e onde, esquecidas, algumas brasas ameaçam o restolho. Vagueio pelo
mundo em busca da verdade. Sou revolta do mês de Abril, embrulhada em cravos de
esperança. E sou o desalento sem esperança. Trilho o pensamento na emoção das
palavras e sem pensar sou a mágoa da desdita. Mas também sou mulher-verdade.
Fêmea com cio e com dores. Arranho e rasgo opressões. Semeio raivas e amores.
Sou chama que aquece e sorriso com que choro. Sou caminho de perdição e
perco-me nos caminhos por onde ando. Ah! Pudera ser apenas flor! Cacto que
fosse em deserto árido. Mas não. Corre-me nas veias este sangue quente que me
oprime e me empurra, que me aquieta e desassossega. E lanço-me à vida como fera
ferida na luta que escolhi. E mesmo morta não me derrotam porque deixo a minha
sombra, fantasma das palavras onde renasço no poema. Recuso amores porque quero
o Amor. Só Ele. Puro e sublime feito de gemidos e prazeres. Instintivo e feroz.
Meigo e doce. Assim sou. Apenas isso. Mulher…
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